Prejuízo no campo chega ao consumidor
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Publicado em 13/12/2023

Calor recorde e chuvas esparsas aumentam as perdas nas lavouras, reduzem a oferta e elevam os preços nas centrais de abastecimento, mercados e sacolões

Os impactos da falta de chuvas e das temperaturas em elevação recorde nas lavouras já se fazem sentir nas centrais de abastecimento, nos sacolões e feiras. A redução de oferta de alguns cultivos mais frágeis eleva seus preços, assim como as perdas de transporte e estocagem para venda que também são influenciadas pelo forte calor.

Com isso, nas Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasaminas), em Contagem, na Grande BH, a reclamação do grande volume de perdas se traduz em montes de produtos nos cantos ou esparramados sob os caminhões que chegam das plantações. É o que mostra a quarta reportagem do Estado de Minas da série sobre a devastação do aquecimento global dos organismos humanos e setores sociais ao abastecimento hídrico.

“As perdas estão muito altas e, com menos produtos, o preço sobe um pouco. O aumento das temperaturas e a chuva que está muito atrasada estão prejudicando demais. O alface, por exemplo, é muito frágil e perde em todos os lugares com o calor: na horta, no caminhão e na banca aqui para vender.

De R$ 15 a unidade passou para R$ 20 a R$ 25. Couve e cebola também estão uma tristeza. Muita perda e preço subindo”, observa o vendedor Marcos Inocencio, de 47 anos. Ele compra as remessas de produtores das hortas da Grande BH, sobretudo Ibirité, Brumadinho e São Joaquim de Bicas.

O produtor e vendedor de batatas e de cebolas, Lucas Flávio Félix de Souza, também acusa grande perda nas lavouras que cultiva em Ouro Branco, na Região Central de Minas Gerais, a 100 quilômetros de Belo Horizonte.

“Estamos tendo perdas por causa dessas altas temperaturas até do que já estava plantado e colhido. Muita quebra e não é só isso, ocorreu perda de qualidade. De 20 mil sacas de cebola, a gente deve ter uma perda de 25%. Nunca vimos um calorão desses e nada aguenta. Os colegas que plantam tomate estão sofrendo também, com gente dizendo que perdeu quase metade da safra”, disse.

A ação do calor sobre as cebolas prejudica em todos os estágios do cultivo, colheita e distribuição. “A cebola fica dentro da terra que se desidrata. Perde os líquidos e diminui. Daí, a casca dela trinca e vai perdendo no tamanho. Quando vai para o separador, na esteira, muitas acabam perdendo a casca mais externa e fica um produto menor e inferior”, conta Lucas.

Tantas perdas já são sentidas pelos clientes nos sacolões e feiras, e precisam desembolsar mais pelos alimentos. Em dois meses (outubro e novembro), o preço médio dos hortifrutis ficou até 84% mais caro nos sacolões de Belo Horizonte.

Segundo o economista e proprietário do Mercado Mineiro, empresa de pesquisas de preços e ofertas do mercado, Feliciano Abreu, o aumento expressivo se deve à onda de calor extremo e ao final de ano, o que também amplia o consumo. De setembro a novembro deste ano, por exemplo, o quilo da batata inglesa aumentou 84,77%, o do chuchu 83,48% e o da cebola branca 63%.

 

PREÇOS EM ALERTA NO CEASA

Na avaliação do coordenador de Informações de Mercado da Ceasaminas, Ricardo Fernandes Martins, os preços ainda estão se mantendo na maioria dos produtos e 2022 chegou a ser até 3% mais caro do que em 2023 por causa das chuvas muito intensas.

“O hortigranjeiro convive muito mal com excesso de chuva, de calor e de frio, o que traz um prejuízo muito grande ao produtor. A alface e os demais produtos do grupo das folhas tiveram alta em torno de 60% e isso dá para atribuir a perdas pela alta temperatura e às chuvas. Os agricultores acabam tendo que aumentar custos, aumentar a irrigação e conseguem minimizar um pouco o problema. Mas nem todos têm bons sistemas de irrigação e dependem muito das chuvas. Esses sofrem bem mais”, afirma.

 

Mateus Parreiras / em.com.br/

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